sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CORRENDO CONTRA O TEMPO, MINAS GERAIS PLANTA EUCALIPTO

ATÉ 2018 O MAIOR ESTADO CONSUMIDOR DE MADEIRA DO PAÍS SÓ PODERÁ RETIRAR 5% DA MATÉRIA-PRIMA DE FLORESTAS NATIVAS



Em até seis anos, Minas Gerais, o maior Estado produtor e consumidor de madeira do País, com cerca de 18 milhões de metros cúbicos por ano, terá que cumprir uma lei estadual que obriga ao uso de praticamente 100% de madeira de árvores plantadas. Madeira de floresta nativa deverá compor só 5% da demanda até 2018, reza a Lei 14.309, de 2002. E, desde 2010, todo usuário de madeira - das siderúrgicas ao dono do disque-pizza - deve comprovar a origem da matéria-prima. Grande desafio para um Estado que tem 50% de sua matriz energética calcada em lenha e derivados, ante 25% do País, e que importava 30% de seu consumo, diz a Associação Mineira de Silvicultura (AMS).

Atualmente, a relação entre demanda e oferta de madeira em Minas está relativamente equilibrada por causa da crise econômica mundial. Entretanto, há preocupação quanto à capacidade de o Estado se abastecer quando a crise passar. "Se a economia lá fora estivesse nos eixos, já teríamos, hoje, um déficit de 50% de florestas plantadas", diz o diretor-superintendente da AMS, Antônio Tarcizo de Andrade e Silva. "Hoje Minas tem 1,4 milhão de hectares de eucalipto e 136 mil hectares de pinus", diz. "Seria preciso até 2018 plantar 200 mil hectares/ano, mas cultivamos 120 mil a 130 mil hectares/ano."

A demanda à qual o representante da AMS se refere diz respeito sobretudo à necessidade de carvão para o polo siderúrgico. Dos 130 mil hectares de florestas plantadas em 2010, 43.960 hectares, ou 34%, viraram carvão vegetal para fabricação de ferro gusa, cuja composição é 50% de carvão e 50% de minério de ferro. Para gerar energia, o Estado utiliza em média 70% de suas florestas plantadas. Sem contar o uso para outros fins, como papel e celulose.

Poupança verde

Numa situação dessas, o termo "poupança verde" se encaixa perfeitamente à iniciativa de agricultores que decidiram investir no eucalipto. Com previsão de demanda aquecida e crescente, eles apostam nesta árvore, mesmo que a primeira colheita ocorra em seis ou sete anos. "É uma poupança em pé", confirma o produtor rural Leonardo Resende, de Coronel Pacheco (MG), que planta eucalipto há sete anos, tanto para geração de energia quanto para serraria. "Queria algo que desse maior rentabilidade por hectare, e o eucalipto dá retorno de 20% a 30% ao ano, ante 6% da pecuária", diz. "É um negócio estável, que não depende de variações anuais de preço e com perspectiva de alta por várias décadas, já que toda a legislação ambiental joga para isso."

Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o eucalipto avança até sobre áreas de cana, que já havia avançado há dez anos sobre pastos. A fusão, em 2009, entre a Satipel e a Duratex, ambas fabricantes de placas e paineis de madeira, tem provocado alterações na paisagem. Atualmente, diz o gerente executivo da Unidade Minas da Duratex, Heuzer Saraiva Guimarães, a empresa cultiva 45 mil hectares de eucalipto no Triângulo. A política da empresa, porém, é focada no arrendamento de terra em vez do regime de parceria, em que a empresa entra com mudas, assistência técnica e colheita e o produtor, com a terra. "É importante ressaltar que a Duratex utiliza, nos arrendamentos, o mesmo sistema de gestão socioambiental das áreas próprias", diz.

O fato é que, no meio do pasto, entremeando áreas de cana e lavouras de grãos, já despontam na paisagem do Triângulo, cada vez mais, os eucaliptos. Mas desta vez o velho conceito de instalar a cultura em terra ruim e declivosa tem sido revisto. "Eucalipto é uma lavoura; tem de adubar, controlar pragas e monitorar focos de incêndio", diz o produtor Luís Felipe Leite Sabino de Oliveira, que plantou 35 hectares de eucaliptos clonados, "muito mais produtivos e fáceis de manejar do que os provenientes de sementes", diz. "O eucalipto comum produz 35 metros cúbicos por hectare/ano. O clonado resulta em 90 metros cúbicos hectare."

Fonte: estadão.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário