segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PRODUÇÃO DE MUDAS DE EUCALIPTO É INSUFICIENTE

Belo Horizonte - Safra dos próximos dois anos está praticamente vendida. Ágio do milheiro sobe. As empresas mineiras que produzem mudas de eucalipto para uso próprio ou para projetos de reflorestamento deverão plantar ou comercializar 280 milhões de unidades até dezembro mas, a despeito dessa elevada produção, a maior já ocorrida no estado, não há mercadoria suficiente para atender á demanda.
"Recentemente, tivemos um inesperado excedente de 300 mil mudas, em decorrência de aumento de produtividade em nosso viveiro e os compradores pagaram até R$ 400 pelo milheiro, mesmo sabendo que nosso custo de produção é bem inferior a R$ 200. Ninguém questionou o preço", revelou o diretor da Celulose Nipo-Brasileira S.A (Cenibra), Germano Aguiar, que é também presidente da Associação Mineira de Silvicultura. Minas responde por 70% do consumo brasileiro de eucalipto.
A situação não é diferente na Plantar S.A., que é a maior empresa independente de produção de mudas do país. Seus dois viveiros - em Curvelo (MG) e outro em Teixeira de Freitas (BA) -, produzem 45 milhões anuais de plantas, cuja safra dos próximos dois anos está praticamente vendida. Como a produção se revelou insuficiente até para atender aos clientes tradicionais, que são basicamente as siderúrgicas e fábricas de celulose, a empresa iniciou em novembro a construção de um terceiro viveiro, em Itumbiara (GO), que deverá produzir mais 15 milhões de mudas a partir de 2006.
Naquele estado, a produção deverá atender, basicamente, a grandes agroindústrias como a Perdigão e Cargill, que pretendem substituir o óleo combustível pela lenha nos fornos de secagem de grãos. Segundo o diretor comercial da Plantar, Marcelo Corrêa, os sucessivos aumentos nos preços internacionais fizeram do petróleo um combustível quatro vezes mais caro que a madeira.
A reflorestadora mineira irá investir R$ 16 milhões no projeto e tem a expectativa de administrar as florestas dos clientes, como já ocorre em Minas e Espírito Santo.
A impressionante demanda de eucalipto em Minas Gerais exige o plantio de uma área anual superior três mil quilômetros quadrados, que corresponde à soma dos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro e mais a baía de Guanabara. A produção é utilizada como insubstituível insumo na fábrica de celulose da Cenibra, que produz 1 milhão de toneladas anuais. E, ainda, na produção do ferro gusa, que desemboca no aço. Uma tonelada de ferro é obtida num alto forno, através da mistura de carvão vegetal e minério de ferro, em partes praticamente iguais.
Em 2004, o preço internacional do ferro gusa disparou, superando US$ 300 a tonelada e com a China adquirindo todo o produto disponível no mundo. Comenta-se que na época, em Minas, quase tudo foi utilizado para fabricar carvão, provavelmente até cabo de vassoura. Naqueles meses, o metro cúbico carvão alcançou R$ 140 e quando não houve mais madeira disponível no estado, os guseiros foram buscá-la em Mato Grosso e até no Pará. Consumidores em pânico, chegaram a realizar importação experimental de madeira do Uruguai e da Argentina.
A queda no comércio internacional de ferro-gusa, registrada nos últimos meses, não inibiu, porém o plantio de florestas. A atividade está em pleno vapor, segundo Marcelo Correa, não somente devido ao aparecimento de novos consumidores, como a agroindústria mas, sobretudo, pelo déficit crônico na produção de eucalipto para atender ao enorme consumo anual de madeira.
Segundo informou o dirigente, com a extinção do programa de incentivo fiscal para reflorestamento, nos anos 80, houve negligência na atividade. "Sem apoio oficial, muitas empresas se afastaram do ramo. Agora corremos o risco de não dispor de madeira dentro de três anos. Será o apagão florestal, semelhante ao que aconteceu com a energia elétrica", advertiu.
A produção de mudas em escala industrial é uma atividade complexa e exige um demorado processo seletivo entre as melhores árvores, das quais são retirados clones que por sua vez são plantadas em gigantescos viveiros. A operação entre a escolha do clone e a entrega da muda demora mais de 60 dias e inclui até a aclimatação da planta em terreno semelhante ao do seu comprador. Nas instalações da Plantar, em Goiás, irão trabalhar 300 funcionários, além de outras 700 pessoas que, de alguma forma estarão ligadas ao empreendimento. O eucalipto estará pronto para o abate somente sete anos após o plantio.
Indústrias de grande porte como a Cenibra ou siderúrgicas como a Belgo Mineira, possuem florestas próprias, que alimentam em todo ou em parte os seus altos fornos. Outros, como a Acesita, estão substituindo seus fornos movidos a carvão mineral pelo vegetal, que é mais barato e produzido aqui mesmo no País.
Nos últimos anos, porém, todas elas estão transferindo parte da produção de eucalipto para fazendeiros, iniciativa tem o objetivo de evitar grandes imobilizações patrimoniais em terras.
Estatísticas da Secretaria Estadual da Fazenda revelam que os municípios cobertos com eucalipto no Vale do Jequitinhonha apresentam receita fiscal superior aos dos vizinhos que vivem exclusivamente da pecuária extensiva. Essas contas foram feitas também pelos fazendeiros que aderiram ao programa denominado Fazendeiro Florestal, com objetivo de criar alternativa de renda para seus vizinhos.
Bom negócio
Durante esse tempo, desde 1967, quando o eucalipto começou a ser plantado em escala industrial, que as florestas se revelaram negócio mais rentável que a criação de rebanhos. Segundo estudos realizados para Plantar pelo Instituto FNP, o eucalipto tem uma rentabilidade de R$ 1 mil por hectare ao ano, enquanto a pecuária de corte oferece R$ 120; a cana rende R$ 700; a soja R$ 200 e o milho R$ 130. "Além disso, o eucalipto não tem sazonalidade. Com novas tecnologias de muda, preparo de solo e de cultivo, o plantio e a colheita acontecem 365 dias por ano", informa Marcelo Corrêa.
Não há no horizonte, sinais de redução do consumo de madeira, mas a ampliação da produção de mudas depende de encomendas firmes, como lembra Aguiar. Ao sair do viveiro ela sobreviverá durante apenas 90 dias, caso não seja plantada e por isso o fornecimento atende prioritariamente aos grandes consumidores e aos seus programas de reflorestamento. Esta é a dificuldade desse mercado que sofre a interferência das pequenas e numerosas usinas independentes de ferro-gusa, com mais de 100 fornos no estado, que são ligados ou desligados de acordo com a demanda internacional.
Quando os guseiros aparecem com seus caminhões nas fazendas e suas ofertas elevadas, as regras são quebradas, desorganizando o mercado. Um dia parado numa fábrica de celulose, por falta de madeira, pode representar o prejuízo de US$ 1 milhão.
kicker: Carvão vegetal é mais barato e substitui óleo combustível usado em fornos de secagem de grãos de indústrias como Cargill e Perdigão.
Por: Gazeta Mercantil / Finanças & Mercados - Pág. 12 - Durval Guimarães

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