sexta-feira, 21 de outubro de 2011

SILVICULTURA E CARVÃO VEGETAL NA VISÃO DE ALGUNS PRODUTORES DE FERO-GUSA DE SETE LAGOAS (VALOR)

Com câmbio desfavorável, com apetite externo reduzido e com custos do carvão e do minério de ferro nas alturas, o setor ficou de cabeça para baixo. E produzir gusa é hoje um negócio duvidoso. "Nos últimos anos, passou a valer mais a pena produzir e vender carvão vegetal do que ferro-gusa", diz Gustavo Paulino, superintendente comercial da Siderpa.

Com os preços do minério de ferro e do carvão nas alturas - muito em função da demanda chinesa -, as margens de ganho dos produtores de gusa despencou. Ferro e carvão são os elementos chave dos guseiros.

Os custos do carvão aumentaram para 65% na fabricação de gusa; os do minério representam 20%, segundo estimativas do setor. Hoje a tonelada do carvão (tipo vegetal) já está em torno dos R$ 300; a de minério, R$ 150.

No fim de 2008, Pontes começou a diversificar seus negócios. Associou-se à BR Malls como minoritário na construção de um shopping (o primeiro e único) em Sete Lagoas. E passou também a investir em reflorestamento.

É o que também fizeram os Paulino, da Siderpa. Formaram uma floresta de eucaliptos de 20 mil hectares em uma área que abrange seis municípios da região centro-norte de Minas. Trata-se de uma fonte valiosa de carvão vegetal. Entre os produtores de gusa de Minas Gerais, uma visão que parece estar se tornando consensual é que se há alguma luz no fim do túnel para os produtores não integrados ela passa necessariamente pela aquisição e formação de florestas para que possa garantir uma fonte sustentável de carvão. O problema é que na época das vacas gordas, muitos acharam que isso não era prioridade. Agora, descapitalizados, quantos poderão fazer investimentos em florestas?

Uma lei estadual sancionada em 2009 estabelece que a partir de 2017 fica proibido o corte de mais de 5% da floresta nativa de cada propriedade para a produção de carvão. "Nós investimos com mais intensidade em floresta desde 2000. Mas ainda se conta nos dedos que tem plantação própria", diz Gustavo Costa Paulino. Com resultados, a Siderpa, segundo ele, atualmente só usa carvão próprio e ainda vende o excedente.

O setor do gusa tem um passado que o condena quando o assunto é carvão. Por décadas se abasteceu de carvão de fontes ilegais, produzidos a partir da derrubada indiscriminada de matas nativas. "Pelo tamanho do parque siderúrgico, Minas sempre consumiu muito carvão, que vem da Bahia, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e também do norte de Minas", diz Alison José Coutinho, superintendente do Ibama em Minas Gerais.
E se há ao menos um aspecto positivo relacionado à decadência do ferro-gusa em Minas Gerais, ele aparece nos resultados dos trabalhos de fiscalização da equipe de Coutinho. "Com o setor operando mais lentamente, o consumo de carvão ilegal diminuiu", diz ele. "Quem comprava de fontes clandestinas, passou a comprar de fornecedores legais porque a oferta de carvão aumentou. É uma lei de mercado."

Fonte: Jornal Valor Econômico 

Nenhum comentário:

Postar um comentário